A imersão em diferentes culturas é, sem dúvidas, o que mais me encanta no ato de viajar. Poder descobrir novos costumes, religiões, culinárias, línguas e povos mexe demais comigo e me inspira a sempre explorar novos destinos. A viagem para o Japão foi uma das mais ricas que fiz, nesse sentido, e minha experiência lá foi muito enriquecida pela experiência de me hospedar em um templo budista, em Koyasan, o chamado Monte Koya.
Na verdade, desde que descobri que isso era possível, não sosseguei até incluir a experiência no meu roteiro! E, honestamente, foi um dos pontos altos da viagem!
Nesse post, que é o último da série sobre o Japão (confira aqui meu roteiro completo), vou dividir com vocês como foi me hospedar em um templo budista no Japão.
// Quanto tempo ficar?
Se seu objetivo é ter a experiência apenas, 1 noite é suficiente, para vivenciar a rotina do templo e conhecer a cidade. Agora, se você busca uma imersão no universo budista, não há limite de tempo :). Eu fiquei dois dias e uma noite e foi ótimo para viver intensamente essa experiência de imersão cultural, mas amei tanto que fiquei com vontade de passar uma semana lá!
// Onde se hospedar?
A cidade de Koyasan, também conhecida como Mt. Koya (por se localizar no topo desse monte), é o único local que possui templos budistas que aceitam hospedar viajantes, pelo que pesquisei. Lá, a prática é comum e há diversos templos que recebem os peregrinos.
O Koyasan, na verdade, é um centro monástico, fundado por volta dos anos 800 por Kobo Daishi, com o objetivo de disseminar a corrente do budismo chamada de “Shingon”. Essa vertente da religião prega (de forma bem resumida) que o nirvana pode ser alcançado na vida presente e que deve ser buscado através da meditação, do contato com a natureza e da oração.
No Koyasan, escolhi me hospedar no Jokiin Temple e fiquei MUITO contente com essa decisão. O templo era super organizado, bem localizado, passou muita segurança quanto às instruções de como chegar, se portar etc. Além disso, todos foram muito simpáticos e receptivos conosco, permitindo inclusive nossa participação na cerimônia matinal dos monges.
O Jokiin é lindo e exala paz e tranquilidade em cada cantinho. É o tipo de lugar que, já ao chegar, você sente o coração acalmar… escrevo de lá agora e chego a me emocionar com os sentimentos carinhosos que guardo dos dias que passei lá. Foi mágico!
Ao chegar ao templo, fui recepcionada por uma moça, que me passou todas as instruções da estadia, horários e me mostrou as premissas do Jokiin e minha acomodação.
A culinária do templo é vegetariana e deliciosa! Eles preparam tudo com o maior carinho e te servem com extrema delicadeza. O jantar é servido no quarto, às 17:30h (por isso é fundamental fazer check in antes disso) e o café da manhã, num salão comum, após a cerimônia matinal.
O quarto do templo é muito parecido com o dos ryokans (tradicionais hospedagens japonesas – veja aqui como foi minha experiência em um ryokan em Kyoto), com futons super confortáveis (montados na hora de dormir), yukatas para usar depois do banho e uma mesa de chá. A vista para as árvores coloridas pelas vermelho do outono japonês foi um presente que tivemos, ao abrir a janela do quarto.
O banheiro do templo, no andar das acomodações era comunitário, com cabines individuais. Já o banho era tomado no onsem, como já expliquei aqui e aqui. Antes de ir para o Japão estava super insegura quanto a isso, mas, depois de experimentar o onsem, posso dizer seguramente que essa foi uma das minhas práticas japonesas favoritas!
Quando tomei banho no templo, mais uma vez, não dividi o espaço com ninguém (todas as vezes que usei o onsem, no Japão, não tive companhia) e pude desfrutar da banheira abastecida com água termal da montanha sozinha….ô delícia!
Enfim, recomendo demais o templo Jokiin como base em Koyasan. Os dois dias que passei lá foram inesquecíveis! Reserve aqui (sem custo adicional) sua estadia no Jokiin Temple. Se preferir, pesquise aqui outras opções de hospedagem em Koyasan.
// Como chegar?
Essa é a parte mais complicada, na minha opinião, mas se hospedando num templo como o Jokiin, não tem erro! A melhor base de acesso ao Mt. Koya é Osaka (veja aqui todas as minhas dicas de Osaka), pois de lá partem trens diretos para o monte. O templo em que fiquei, um pouco antes da viagem, enviou um e-mail com orientações precisas sobre como chegar e não tive nenhuma dificuldade.
A viagem de Osaka até Koyasan leva em torno de 4 horas. Nesse link tem todas as coordenadas para chegar até Koyasan. O trajeto é feito de trem e, depois, de bondinho até o topo da montanha. Lá em cima é bem frio – foi o lugar mais frio em que estive nessa viagem (cheguei a pegar 6º!) e, também por isso, onde as cores do outono estavam mais lindas.
Uma vez chegando à estação de Koyasan, há 2 ônibus que seguem para diferentes destinações: “Daimon” ou “Okunoin”. Os dois levavam ao Jokiin, de modo que o horário de chegada é que vai determinar qual deles pegar (o pessoal do templo envia todas essas dicas por e-mail).
// Meu roteiro
# Dia 1
Cheguei no começo da tarde e, após localizar o templo e conhecer suas premissas, deixei as malas lá (ainda não estava aberto o check in, mas eles se prontificaram a guardar nossas bagagens) e fui passear pela cidade. Koyasan possui cerca de 150 templos e muitos deles são abertos a visitação. Então, depois de almoçar, fui explorá-los.
➦ Templo Kongobu-ji – esse templo começou a ser construído em 1131 e é um dos principais e mais belos de Koyasan. O jardim zen budista dele foi também um dos meus favoritos do Japão!
➦ Konpon Daito – é a maior construção de Koyasan, onde Kobo Daishi começou a construir seu complexo budista. Muita coisa sofreu alteração desde aquela época, mas o pagode permanece como foi construído inicialmente.
➦ Meditação no templo – aproveitei que ainda era cedo, na volta do passeio, para meditar um pouco no Jokiin. Lá, havia um cantinho todo especial dedicado a isso.
➦ Jantar no templo – às 17:30h, o jantar foi servido no nosso quarto, por jovens que estudam para ser monges. A culinária monástica é vegetariana e deliciosa! A refeição foi servida com o cuidado e o capricho típico dos japoneses e tudo foi feito e montado com tanto carinho que me senti inundada pela gratidão de poder estar vivendo aquela experiência. Foi um dos melhores jantares da viagem!
# Dia 2
➦ Cerimônia matinal – no nascer do dia, acontece a cerimônia matinal dos monges (por volta das 5:30h). Alguns templos permitem que os viajantes participem e o Jokiin, por sorte, era um desses! Apesar de ser celebrada em japonês, achei a experiência de vivenciar esse culto pessoalmente incrível! Por mais que haja a barreira da linguagem, o sentimento é universal, né?
Uma coisa muito interessante é que, ao final da cerimônia, os hóspedes do templo foram chamados a participar dos rituais, de forma simbólica. Um detalhe que achei gentil e inclusivo e que, mais uma vez, confirmaram que escolhi bem, quando decidi me hospedar lá!
➦ Café da manhã – depois da cerimônia, o café da manhã foi servido num salão comunitário. Tudo simples, mas gostoso e servido com cuidado e delicadeza!
➦ Cemitério – antes de ir para o Koyasan, tinha muita dúvida sobre se valeria ou não a pena visitar o cemitério local, uma das “atrações” da cidade, por abrigar o mausoléu de Kobo Daishi.
Uma vez lá, acabei achando irresistível a ideia de conhecer o local e não me arrependi! Esse, definitivamente, foi o cemitério mais diferente em que já fui: lindo, tranquilo e com uma aura de paz – quase mística, eu diria – inigualável.
Especialmente pela possibilidade de visitar o Okunoin, que é o mausoléu do Kobo Daishi, achei imperdível a visita. É lá que o fundador do Koyasan vive seu eterno nirvana, segundo o budismo. O mausoléu fica no final do cemitério e, mesmo não sendo budista, juro que senti um clima diferente quando me aproximei dessa parte.
Vários monges vão lá rezar diariamente e o lugar é muito procurado pelos locais também. O Okunoin é enorme, um verdadeiro templo, e, lá dentro, não é permitido tirar fotos.
➦ Passeio pelas ruas da cidade – depois de visitar o cemitério, dei uma volta pelas ruas de Koyasan, aproveitei para finalmente comprar um kimono numa loja local (fiquei muito feliz de trazer essa lembrança, ainda mais vinda de um lugar tão especial!). No fim da tarde, peguei o trem para Tokyo.
***
Conhecer o Koyasan e me hospedar num templo budista foi uma das experiências mais especiais que tive em viagens e, sem dúvidas, fechou com chave de ouro meu roteiro pelo Japão.
Definitivamente, não voltei a mesma dessa viagem, Recomendo de olhos fechados essa experiência para todos que queiram imergir na cultura desse país tão fantástico e especial!
E você, já pensou em fazer algo do tipo?
Obrigada pela visita!
Beijos, Camilla
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