De todas as cidades que visitei na minha viagem ao Japão, Hiroshima era uma das que, inicialmente, tinha me despertado menor interesse, confesso! Não por achar que a cidade seria desinteressante. Ao contrário, como aficionada por história que sou, sabia que a visita seria riquíssima, do ponto de vista histórico e cultural.
Meu “desânimo” se justificava pela imagem mental que havia criado da cidade, de que Hiroshima respiraria, até os dias de hoje, aquele clima pesado que se instaurou com a explosão da bomba atômica. Porém, nada mais fora da realidade!
Hiroshima é uma cidade jovem, alegre e animada. Seu triste passado existe, é óbvio, e é lembrado a todo o instante. Mas os japoneses conseguiram transforar toda aquela dor, decorrente da memória de um dos episódios mais tristes vividos pela humanidade, em algo bonito como o propósito de buscar a paz mundial.
A cidade não tem a atmosfera depressiva e sorumbática que imaginei que teria, os japoneses de Hiroshima são tão amáveis e simpáticos como todos os outros que encontrei ao longo de minha viagem pelo Japão, em tantas outras cidades, além de serem aficcionados por baseball! Hiroshima aprendeu com as dores vividas em seu passado e projeta hoje uma mensagem linda para o futuro.
Não fosse só o quesito história, há dois bate-voltas que podem ser feitos com base na cidade que considero imperdíveis: a cidade de Himeji (famosa por seu magnífico castelo, que é patrimônio mundial da UNESCO e tesouro nacional do Japão) e a ilha de Miyajima! Por tudo isso e muito mais, considero imperdível incluir a cidade em qualquer roteiro pelo Japão!
// Como Chegar?
Eu fui para Hiroshima de Kyoto, usando o trem bala. A viagem dura cerca de 1:40h e você não precisa reservar a passagem com antecedência (os trens são frequentes e você pode simplesmente chegar um pouco antes na estação e escolher o próximo trem).
Como já comentei nesse post aqui, eu comprei o JR Pass, passe que permite livre acesso às linhas de trens JR, que inclui o trem bala, pela quantidade de tempo escolhida por você.
// Quanto tempo ficar?
Antes de ir para Hiroshima, a maior parte dos lugares em que pesquisei sobre a cidade indicavam que 2 dias seriam suficientes para conhecer a cidade, parando na ida na cidade de Himeji (que fica no caminho para lá) e também visitando, um dia, a famosa ilha de Myiajima, que fica bem pertinho dela. Porém, achei que foi pouco tempo!
O cenário ideal seria reservar 3 dias para a região, fazendo base em Hiroshima. Assim, você dedica 1 dia para Himeji, 1 para Hiroshima e 1 para Myiajima e consegue conhecer e curtir com calma cada um dos lugares. Em 2 dias, dá pra fazer, mas você perde a visita a alguns lugares legais e fica tudo muito corrido.
// Onde se Hospedar?
Como já falei nesse post aqui, na minha viagem ao Japão priorizei custo x benefício nas hospedagens escolhidas. E, em Hiroshima, minha escolha, o Hiroshima Washington Hotel, não fugiu a essa regra.
O Hiroshima Washington Hotel se mostrou uma excelente escolha. O hotel era muito bem localizado (fiz praticamente tudo a pé) e super confortável, com quarto e o banheiro bem espaçosos, para os padrões japoneses.
Optamos por fazer a reserva sem café da manhã, o que não foi problema algum, pois há várias cafeterias legais por lá.
Dito tudo isso, recomendo muito o hotel! Reserve aqui (sem custo adicional) sua estadia lá ou pesquise aqui outras opções de hospedagem em Hiroshima.
// O que fazer em Himeji?
Essa pacata cidade ao sul do Japão fica no caminho para Hiroshima (lembrando que eu vim de Kyoto, de trem bala). Para chegar lá, basta fazer uma parada no trem que segue ao seu destino final (você pode deixar as bagagens no guarda volume da estação, como eu fiz).
Himeji é famosa por seu magnífico castelo, que é Patrimônio Mundial da Humanidade e Tesouro Nacional do Japão. Para você ter uma ideia, esse é o castelo mais visitado do país! Lá também foram gravadas cenas do filme O Último Samurai.
Eu fui para lá com a expectativa de que só teria o castelo e seu jardim para visitar, mas achei Himeji uma gracinha! A cidade é cheia de cantinhos fofos, que eu gostaria de ter tido mais tempo de curtir com calma, além de fazer alguns outros passeios.
Por isso, apesar de a maioria dos roteiros sugerir apenas uma parada em Himeji, no trajeto para Hiroshima (que dura pouco mais de 1 hora, de trem-bala, saindo de Kyoto), eu recomendaria ficar lá um dia todo e, no fim do dia, seguir para Hiroshima. Assim, você curte tudo num ritmo mais adequado.
De qualquer forma, mesmo que você não tenha muito tempo, recomendo demais conhecer Himeji, só seu castelo magnífico já valeria a viagem! Ah, e se sua viagem for no período da floração das cerejeiras, saiba que a paisagem fica ainda mais encantadora, nessa época, cercada dessas flores.
➦ Castelo de Himeji – construído em 1333, o castelo originalmente possuía uma arquitetura com características de defesa. Ao longo de séculos, foi sendo modificado, conforme mudava de mãos, até chegar à forma como o conhecemos hoje. Durante a Segunda Guerra Mundial quando a cidade foi bombardeada, o Castelo de Himeji milagrosamente sobreviveu sem grandes danos e logo começou a ser restaurado. Sorte a nossa que agora podemos visitar essa obra histórica tão bem preservada.
➦ Jardim Koko-En – é o magnífico jardim do castelo. Apesar de, nessa altura do meu roteiro, já ter visitado vários jardins japoneses, me impressionei demais com esse! O local é lindo, com diversos estilos paisagísticos e belezas naturais. Dá pra passar o dia todo lá dentro, admirando sua beleza.
Um ponto interessante é que acontecem cerimônias do chá nesse jardim, então, é também um excelente local para experimentar um pouco mais da cultura milenar japonesa.
➦ Passeio de barco – no rio que circunda o castelo, acontece um passeio de barco super simpático, que passa ao redor da propriedade e de seu jardim. Quando estive em Himeji, fazia um dia lindo de sol e o passeio parecia super convidativo, mas por falta de tempo, não pude fazê-lo. Fica a dica, então, para quem visitar a cidade com uma agenda mais folgada.
// O que fazer em Hiroshima?
É inegável, o legado da guerra e da bomba atômica desperta grande parte da curiosidade turística que envolve a cidade. A manhã do dia seis de agosto de 1945, quando Hiroshima foi inteiramente arrasada pela bomba Little Boy, lançada pelos Estados Unidos, ainda permanece bem viva na memória da cidade.
Mas o legado do que foi feito com essa experiência de sofrimento profundo, que traz cicatrizes vivas na cidade até os dias de hoje, é o mais interessante de se ver, ao visitar a cidade. Há uma grande força e uma dignidade sem precedentes em constatar, com os próprios olhos, que a cidade ressurgiu literalmente das cinzas e que luta com tanto afinco pela promoção da paz mundial.
➦ Museu Memorial da Paz – é o museu destinado a contar (e recriar) a história do dia do bombeamento da cidade. Por mais que seja um relato cheio de dor, não imaginei que fosse me emocionar tanto lá, como me emocionei!
A combinação de relatos históricos, recriações digitais do dia em que a cidade foi atingida e recordação dos fatos pelas perspectivas das pessoas que morreram nesse acontecimento – um relógio que parou no momento em que a cidade foi atingida pela bomba, o triciclo da criança que morreu…. – é profundamente emocionante e triste.
Impossível não sair de lá com um nó na garganta e os olhos cheios d’água. Ao mesmo tempo, toda a construção é feita de uma forma bonita, profundamente humana e sensível. São fatos que nunca podem ser esquecidos e que estão sendo lembrados da melhor forma possível, na minha opinião.
➦ Parque da Paz – belo parque público que se estende, desde o domo até o museu, e é cheio de monumentos relativos ao bombardeio e clamando pela paz mundial.
➦ Domo da Bomba Atômica – era a antiga Cúpula Genbaku – prédio de cuja a arquitetura os japoneses muito se orgulhavam – que foi atingida pela bomba atômica e cujo domo, inexplicavelmente, se mantém de pé até hoje, o que o tornou um dos símbolos da cidade. Impossível não ficar perplexo e reflexivo ao se deparar com o Domo.
➦ Shukkeien Gardens – É um Jardim Japonês famoso em Hiroshima e com reputação de extrema beleza. Infelizmente, não tive tempo de conhece-lo, no meu roteiro, pois, como já disse aqui, o tempo ficou escasso e priorizei a parte histórica da cidade.
➦ Castelo de Hiroshima – É a reconstrução do que foi originalmente o castelo construído por Mori Terumoto, no século XVI como um centro feudal. Após a destruição pela bomba atômica, o castelo foi reconstruído e sua torre principal é usada como museu. Também não tive tempo de conferir, infelizmente.
➦ Rua Handori – é uma das principais ruas de pedestre da cidade, cheia de lojas, bares e restaurantes.
// O que fazer em Miyajima?
Miyajima fica a apenas 10 km de Hiroshima e o jeito mais prático de chegar lá é de ferry (existe a opção de fazer o deslocamento via JR Pass, mas achei que perderia muito tempo, por isso nem tentei). De ferry, você chega lá em aproximadamente 10 minutos!
A ilha, que fica na Baía de Hiroshima, é considerada sagrada pelos japoneses e é repleta de templos xintoístas e budistas. Se de fato é sagrada ou não, eu não sei, mas posso dizer que tem uma energia incrível de paz lá e que, curiosamente, não sofreu qualquer dano durante a Segunda Guerra Mundial!
Outra ponto interessante é que a ilha é cheia de cervos (alguns dóceis, outros nem tanto rs), que circulam livremente por lá, assim como em Nara (mas nessa última, em quantidade muito maior). Os japoneses consideram os animas mensageiros da paz.
➦ Toori – É o icônico portal sagrado que fica na água e é um dos principais cartões postais do Japão. Vale a pena ficar atento aos horários das marés, se quiser vê-lo imerso na água.
➦ Santuário de Itsukushima – É um dos primeiros pontos de partida em um roteiro pela ilha. Assim que você chega, já avista a estrutura vermelha, super fotogênica, desse templo xintoísta, que teve sua construção iniciada no século VI e que também é patrimônio da UNESCO.
Por ficar debruçado sobre a água, bem próximo ao Tori, é um excelente ponto de vista para fotografar o cartão postal de Miyajima.
➦ Complexo budista Daisho in – Esse complexo de 12 templos é um dos principais pontos de interesse da ilha e foi um dos lugares que mais gostei de conhecer por lá. Os templos são lindos e a atmosfera de paz, incrível.
Na entrada do complexo, há uma escadaria com 600 rodas de oração. Não deixe de subir, tocando e rodando cada uma delas, para garantir sua boa sorte! 😉
Dois outros pontos de destaque do complexo de templos, para mim, foram a escadaria de um dos templos, onde você desce e se depara com um caminho todo escuro, que deve ser percorrido com confiança (extremamente simbólico e uma experiência muito especial!) até o final e o jardim lateral. Esse jardim conta com 500 estátuas de discípulos de Shaka Nyorai, cada uma com uma expressão facial própria – encantador!
➦ Monte Misen – é um dos pontos mais importantes da ilha e senti não ter tido o devido tempo para explorá-lo, por não ter reservado 1 dia inteiro para conhecer Miyajima!
O melhor jeito de subir nele, na minha opinião, é de teleférico (mas há quem encare a trilha de 2,5 km só de subida, em meio à mata). Só o visual da subida (é muito alto!) já valeria o passeio, que apresenta vistas de tirar o fôlego de Miyajima.
Reza a lenda que, por volta do ano 806, Kobo Daishi (monge budista, fundador da escola Shingon ou palavra verdadeira, do budismo) passou 100 dias meditando no topo do Monte Misen e acendeu uma chama que permanece acesa até hoje, no topo da montanha e cujo fogo foi usado para acender a chama eterna do Memorial da Paz de Hiroshima. Dizem que essa chama só será apagada quando armas atômicas não forem mais usadas para ameaçar a humanidade.
Uma vez que você desembarque do teleférico, há várias trilhas a serem feitas no alto do monte, que levam a templos, lugares importantes da vida de Kobo Daishi e até mesmo a ver a chama eterna. Eu cheguei a começar a fazer a trilha (que não é tão fácil assim, devo alertar), mas, com pressa e fome (já passava da hora do almoço), confesso que desisti.
O ideal, na minha opinião, é deixar a trilha para a parte da tarde, depois do almoço, uma vez que você tenha um dia inteiro para conhecer Miyajima. Ou, se preferir, que gaste a manhã com esse trecho do seu roteiro pela ilha. Definitivamente, subir o monte às 14h não foi uma ideia inteligente…rs
➦ Provar a ostra grelhada – As ostras grelhadas são um dos famosos pratos típicos de Miyajima. Portanto, não saia de lá sem prová-las, em uma das inúmeras barraquinhas de rua ou restaurantes da ilha – são deliciosas!
➦ Docinho típicos – Por fim, não posso deixar de falar sobre os docinhos típicos da ilha, em formato de flor e com diversos recheios. Não lembro o nome, mas lembro perfeitamente do seu delicioso sabor!
Logo na entrada da ilha, encontrei uma confeitaria super fofa, que oferecia o doce. Foi lá que tomei café da manhã nesse dia e super recomendo!
// Onde comer em Hiroshima?
➦ Kisetsu Ryori Nakashima – Nesse restaurante, que conta com 3 estrelas Michelin, tive uma das melhores refeições da viagem! !
O menu degustação conta com 8 etapas, que são iniciadas por uma seleção impecável de Sashimis (acho que o melhor sashimi que já comi na vida!). Na sequência, foram servidas diversas outras delícias, como sopas, wagyu e, até mesmo, o tradicional arroz japonês – uma verdadeira viagem pela gastronomia japonesa, de uma forma lúdica, simples e com uma execução impecável!⠀⠀⠀
Se seu budget permitir, recomendo fortemente um jantar no Kisetsu Ryori Nakashima. É essencial reservar previamente, o que pode ser feito nesse link.
➦ Hassei – é um dos restaurantes mais populares da cidade para provar o prato típico de Hiroshima, que é o okonomiyaki – uma panqueca japonesa feita na chapa.
O ambiente do restaurante é super rústico (até demais para o meu gosto rs), mas experimentar o okonomiyaki é uma experiência necessária em Hiroshima. Portanto, nada mais justo do que tê-la no lugar mais tradicional.
Endereço: 4-17 Fujimicho, Naka Ward, Hiroshima, Hiroshima Prefecture 730-0043, Japão
➦ Golden Garden – esse simpático barzinho ficava bem perto do nosso hotel, então aproveitamos para conhecê-lo numa das nossas noites na cidade e foi uma grata surpresa. O ambiente animado e as diversas cervejas artesanais garantiram a diversão da noite.
***
Hiroshima definitivamente me surpreendeu. Apesar de querer ter mais tempo para explorá-la com calma, sentindo sua história e nuances, a passagem por lá, definitivamente, marcou minha viagem pelo Japão! No próximo post, conto sobre como foi minha experiência em Osaka, a segunda maior cidade do Japão!
Obrigada pela visita!
Beijos, Camilla
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